sábado, agosto 16, 2008

Diferentes…





Quase em atitude de observação participante,
constata-se que aqui chegaram uns quatrocentos retirandos,
alguns, de perto, outros, de longínquas paragens,
desde Norte a Sul, Açores, Angola, Moçambique, Brasil…
O que procuram eles, neste Encontro, de fascinante?
Ideias novas, à semelhança dos académicos e seus formandos?
Não! Aqui não encontram enganosas miragens,
tudo é claro, transparente, sensível, real e subtil.

Desde a aurora ao adormecer,
enchem sala de conferências, visitam e revisitam capelas,
lêem e meditam sob as árvores ou deambulando pelos carreiros;
este, reflecte sobre o Absoluto do Ser,
aquele, toma notas, decidindo pautar sua vida por elas,
e a maioria, em silêncio, levanta uma prece mais alta que os outeiros!

O que têm, afinal, estes buscadores de Deus?
Nada têm e, por isso, são livres e libertadores!
Assumem-se pobres dos pobres, totalmente desenraizados…
A nada se prendem, seja à família, imagem, estatuto e predilecções, a nada!
É admirável e espantoso como deixaram tudo, até os seus!,
porque, no fundo, não puderam abafar os amores
que, há muito tempo, trazem guardados
e que lhes permitem aceitar tudo, desde a doença à morte irmanada!

O mundo, lá fora, tem tudo, desde o trivial ao fabuloso:
diversão, ricas mansões, arranha-céus, políticos, estradas e rotundas…
Aqui não há outra coisa senão a pobreza das alegrias profundas,
que transporta a alma ao infinito de um mundo misterioso!
Lá fora, têm leituras de premiados e esotéricos autores, laicos, ateus ou agnósticos,
têm canções de variados cambiantes, DVD’s, Net, Blogs, telenovelas aos centos!
Aqui, lê-se Josué, Oseias, David e outros, como Larrañaga, de similares diagnósticos,
já que da interioridade, da inteligência emotiva, da singeleza, fizeram seus assentos.

E também há humor, imaginação criativa, inovação construtiva do divino…
Para todos têm um lugar, na simplicidade de um coração aberto;
até os que fazem do mundo o seu cais,
os vulgo ditos pecadores, geração que não acaba,
são considerados os primeiros e recebidos com carícias de menino!
E assim, no final, os de fora e os de dentro seguem o caminho certo,
pois o Ser Misericordioso, sem mais,
derrama seu perfume, luz, amor,
e todos, sem excepção, justo e pecador,
podem retribuir, clamando, carinhosamente: ABBA!

Já de partida, desta terra de Canaã,
rejuvenescidos pela solipsista e desértica aragem,
ainda se perguntam os valentes retirandos,
sem esquecer a Virgem Mamã:
- Cristo Encarnado, porquê tantos desmandos
para com os deserdados da fortuna e vítimas da guerra?
Queremos sair daqui para uma infindável viagem,
que leve fermento de PAZ ao doméstico vale e à incógnita serra!

E, a sós ou em grupos, irão saindo,
modestos, humildes, diferentes, com a inocência e veracidade de uma criança,
loucos como o Louco de Nazaré,
loucura entre a Razão e a Fé,
como se tivessem reduplicado a existência!
O que aconteceu aqui, na sua radical essência?
A experiência íntima de que entre Deus e Homem está viva a prometida Aliança!



ChFer - 07.08.2008