terça-feira, dezembro 02, 2008

Quem acende e apaga o morrão?


Quando li as interrogantes páginas de Sándor Márai, em As velas ardem até ao fim, procurei uma apropriação e simultânea projecção duma passagem quase teleológica:

- "Cada um gera aquilo que acontece consigo. Gera-o, invoca-o, não deixa de escapar àquilo que tem de acontecer. O homem é assim. Fá-lo, mesmo que saiba e sinta logo, desde o primeiro momento, que tudo o que faz é fatal. O homem e o seu destino seguram-se um ao outro, evocam-se e criam-se mutuamente. Não é verdade que o destino entre cego na nossa vida, não. O destino entra pela porta que nós mesmos abrimos, convidando-o a passar. Não há nenhum ser humano que seja bastante forte e inteligente para desviar com palavras ou com acções o destino fatal que advém, segundo leis irrevogáveis, da sua natureza, do seu carácter".


Se admitisse tal fatalismo, pura e simplesmente, ainda que ligado à natureza e carácter pessoais, para explicação do meu percurso de vida, creio que teria ficado estatelado na infância dos 5/6 anos. Contudo, mesmo que a força do destino pareça irrevogável, outra Força mais forte, quase sempre incógnita, impera sobre o desenrolar do fenómeno vital. E é essa Força, sim, que acende e apaga o morrão das velas, mesmo que tenham ardido até ao fim...