quarta-feira, julho 20, 2005

Ró, ró, menino da avó!...

Lembro-me de que, aos 18 meses, a minha avó materna, Ana Maria, me embalava, na canastra, com uma cantilena que enfeitiçava pelo tom repetitivo, intimista, progressivamente apagado: - "Ró, ró, menino da avó..."!
Aos 2 anos e meio, também me lembro de que o meu pai, sentado no banco da velha cozinha, pegando em mim sobre os joelhos, me disse: - "A avó morreu"! - E, sem me aperceber do significado do acontecimento, fui buscar o meu carrinho de cortiça. Puxando-o, disse bem onomatopaicamente: -"Ró, ró, menino da avó..."! É claro que o meu pai, atendendo às circunstâncias, me tirou e escondeu o carrinho...
Volvidos já longos anos, fui à velha casa, onde nasci, remexer os espaços das minhas memórias de infância. E, precisamente na
buraca (cavidade rasgada na parede) da cozinha, lá bem no fundo de outros brinquedos, encontrei o meu realejo adormecido... Peguei nele, com mão acariciadora de menino, soprei e, de tão ferrugento que estava, só consegui acordá-lo com uma nota rofenha, rouca de incontável repouso, que timbrou muito perceptivelmente: - "Ró, ró..."!
E lá o deixei, para que não mais terminasse a sua melodia...