terça-feira, setembro 13, 2005

Os sinos da minha aldeia...

Quando passo e repasso por este local, o adro e a igreja da minha aldeia, trago à lembrança centenas de episódios vividos entre crianças... Jogávamos ao fito depois das catequeses, corríamos atrás de bolas de trapos ou de cortiça, imitávamos os sermões dos Senhores Padres, programávamos as travessuras da semana que se avizinhava...
E os sinos? Tocavam, que era um regalo ouvi-los: às Trindades, em Baptizados e Casamentos, e nas Festas da Páscoa tanto, que até rachavam! Hoje, ainda que toquem, já não têm grande auditório, uma vez que a aldeia se veio desertificando, por variados motivos e influências. Mas eles, os nossos sinos, que vigiam daquele campanário sobranceiro ao povoado, lá ficam sempre esperando por filhos de uma terra que se encontram algures, numa diáspora sem tempo marcado...
Nesta igreja humilde, de linhas simples, onde se cruza a verticalidade com a horizontalidade, passaram testemunhos de trisavós a trinetos, mas todos eles incutindo os valores do respeito, da modéstia, da hombridade, da franqueza, da tolerância, do compromisso assumido, da indiscutível amizade com gente próxima ou estranha... E ainda ouço os sinos a selar os contratos da palavra de honra que os meus conterrâneos juravam ao cimo do adro, sob o olhar atento do centenário cruzeiro! Como os sinos sabiam que aquela gente era mesmo de palavra! E que grande lição dela podíamos tirar para os tempos hodiernos!