Desconcerto de Natal

Sou ninguém.
Ninguém que pensa.
Contradição da palavra,
que atraiçoa uma ideia.
Ninguém que pensa
é ser alguém.
Ninguém, de facto.
Alguém, de direito.
Daí, danem-se o direito e o facto!
Lutem pela supremacia!
Não tomo partido por qualquer deles.
Sou alguém e ninguém.
Sou o facto e o direito.
Ainda que queira,
nem sou uma coisa, nem outra!
Sou apenas de mim o desdém.
Mas também sou de mim o pundonor.
Afinal, quem sou?
Perguntem à minha mãe,
que talvez responda: um natal gerado em amor!