domingo, novembro 11, 2007

Uma significativa e impressionante metáfora da ETERNIDADE!




James Joyce descreve (com imaginação tanta, que poucos conseguem aproximar-se do seu fértil talento) o conceito de eternidade. E continua a achar que a sua metáfora é uma pálida imagem da eternidade na sua plenitude semântico-conceptual-real. Vale a pena ler.

“(…) Já vistes frequen­temente a areia na praia. Como são finos os seus minúsculos grãos! E quantos desses minúsculos grãos são precisos para formar a pe­quena mão-cheia de areia em que uma criança agarra para brincar. Agora, imaginem uma montanha dessa areia, com um milhão de milhas de altura, elevando-se da terra até aos mais altos céus, e com um milhão de milhas de largura, estendendo-se até ao espaço mais remoto, e com um milhão de milhas de espessura; e imagi­nem essa enorme massa de incontáveis partículas de areia multi­plicadas pelo número de folhas que há na floresta, de gotas de água do poderoso oceano, de penas das aves, de escamas dos peixes, de pêlos dos animais, de átomos na imensa extensão do ar: e imaginai que, ao fim de cada milhão de anos, um passarinho pousava na montanha e levava no bico um minúsculo grão dessa areia. Quan­tos milhões e milhões de séculos seriam necessários para que o pas­sarinho levasse consigo um palmo quadrado dessa montanha, quantos eões e eões de séculos até a levar toda? Todavia, no final dessa imensa extensão de tempo, nem sequer um instante da eter­nidade teria passado. No final de todos esses biliões e triliões de anos, a eternidade mal teria começado. E se essa montanha se er­guesse novamente, depois de ter sido removida e o passarinho voltasse a removê-la novamente, grão a grão, e se ela se elevasse e fos­se removida tantas vezes quantas as estrelas que há no céu, os áto­mos que há no ar, as gotas de água que há no oceano, as folhas que há nas árvores, as penas que há nas aves, as escamas dos peixes, os pêlos dos animais, no final de todas essas inumeráveis elevações e remoções dessa montanha incomensuravelmente grande, não se poderia afirmar que tivesse passado um único instante da eterni­dade; mesmo nessa altura, no final desse período, depois dessa imensidão de tempo, que, só de pensarmos nela, nos põe a cabeça a andar à roda, a eternidade mal teria começado”. pp. 130-131


JOYCE, James (1916) (2002). Retrato do Artista Quando Jovem. Lisboa: Publicações Europa-América.