quarta-feira, outubro 11, 2006

ELES TIRAM TUDO...

O (meu) GRITO


Olhando para os últimos 10 meses, ou seja, desde Janeiro a Outubro/2006, temos sido confrontados com muitas decisões políticas, basicamente apriorísticas, quando aposterioristicamente seria o correcto, que nos dão sempre o mesmo leitmotiv de um pensamento negativo: tirar, tirar, tirar (eufemisticamente, retirar).
Na verdade, eles tiram tudo ao povo português, com especial incidência nas classes média e baixa: maternidades, blocos de parto, centros de saúde, hospitais, urgências, direito de internamento, escolas, benefícios de ADSE, subsidiariedade de medicamentos, BT e BF e Companhias militares, dignidade etária de aposentação, confidencialidade de telefonemas, viabilidade de profissão no final de curso, o direito de acordo contratual, o direito de progressão nas carreiras, financiamento local adequado, a indignação pelas assimetrias, etc., etc. ... E não estão já a pensar em tirar-nos o direito de nascer e de viver com a dignidade e responsabilidade de seres humanos?
Será que também pensam em tirar-nos a alma? Creio mesmo que o povo está a ficar desalmado!
Mas tiram tudo em nome de quê e de quem?
Em nome do D. Défice? Em nome de milhões de Euros a recuperar? Será verdade que fazem bem as contas (no campo da saúde e financiamento autárquico vêem-se muitas hesitações a este respeito!)? E não alardeiam que é óbvia a retoma económica? A quem beneficia ela?
Por outro lado, será que os políticos tiram a eles próprios? Há quanto tempo não publicitam os seus próprios vencimentos (diga-se, não congelados) e as cumulativas aposentações? Como é controlado o lado negro de acumulações de cargos e vencimentos, quando sabemos que tantos jovens estão à espera de um primeiro emprego (ainda que efémero)?
A sustentabilidade das reformas sociais, a necessidade de reformas corajosas (que sarcasmo!), o receio de um puxão de orelhas pela CE face ao papão défice, justificam este inconsulto tirar tudo?
A resposta dos políticos em cena adivinha-se: NÓS É QUE SABEMOS! OS OUTROS, IGNORANTES E CONTESTATÁRIOS DAS REFORMAS EM CURSO!
Deixem-me gritar: NÃO ÀS REFORMAS SEM CONSENSO, SEM CÁLCULO RIGOROSO, SEM EXEMPLO DOS QUE OCUPAM TRONOS, SEM RESPEITO PELA DIGNIDADE DO POVO QUE TRABALHA, frequentemente em condições de pobreza e miséria!

De facto, todos podemos GRITAR, mas, por múltiplas razões, as pessoas estão a emudecer, refugiando-se na indiferença e na passividade, quem sabe, baseada no receio de fogachos oligárquicos de loucura e nacionalssocialismo, de que o horizonte crítico de alguns resistentes nos começou a fazer suspeitar.