quarta-feira, janeiro 28, 2015

A VIDA NÃO ACABA!





"Ontem, 25.01.2015, eram 00:30 horas, resolveste partir para um recôndito invisível, talvez próximo, talvez distante, certamente na lonjura do infinito.
Hoje, 26.01.2015, pelas 15:30 horas, foi o teu último adeus, naquele cemitério simultaneamente temível e familiar, chão sagrado do nosso povo.
Quem para ti olhava, e foram tantas as maravilhosas gentes da querida aldeia e de outras aldeias vizinhas, notava a serenidade, a paz, a calma, face às preocupações, vaivéns, alegrias, tristezas, satisfação e dor, que esta vida te trouxe. Não eras só uma pessoa, mas uma instituição. Ali estavas solene, imperturbável, perante a saudade e o choro dos teus filhos, marido, netos, irmãos, nora, cunhados, e tantas pessoas desejosas de te olharem e verem pela derradeira vez sobre a terra sagrada do lugar de descanso.
Como sinto as tuas risadas pelo campo, o teu encanto com os amores-perfeitos dos lameiros, a tua adoração pelas rosas e papoilas vermelhas, a tua miragem com o ondular das searas, o teu sonho pelo verde dos olivais, a tua ansiedade pela saúde dos outros (mesmo esquecendo a tua), a tua ânsia de um mundo melhor para os teus filhos e para os filhos dos outros... Essa era a tua paisagem da vida, o sentido de uma felicidade apetecível e à mão, impossível de descrever em nota de uma só página...
Será que tudo ruíu, que "num só segundo, o teu (meu) mundo acabou"? Digo-te, sinceramente, que, de forma espontânea, me apetecia dizer que sim. Mas, pensando bem, tenho que dizer-te que não. Na verdade, este mundo passa, passou para ti, passou para biliões de seres humanos, passará para todos os que virão depois. Todavia, apenas passa para dar lugar a um outro estado, o mundo da felicidade, para o qual nos conduz  o caminho da ESPERANÇA. E creio, como teu irmão, como católico que sou, que nesse mundo de felicidade te encontrarás, porque, realmente, tu bem o mereces por tudo o que fizeste, sofreste, desejaste, amaste e sonhaste, ao longo de sessenta e cinco anos de travessia.
Não sei como dizer-te, mas, para mim e, creio bem, para todos os que contigo viveram e conviveram, mereces o maior ABRAÇO de SAUDADE e de MEMÓRIA que o Ser Supremo te dê de presente, algures, onde o DESCANSO, o SOSSEGO, o AFECTO, o CARINHO e o AMOR reinem absoluta e interminavelmente. Aí será o nosso REENCONTRO, queridaMarta de nome próprio, Conceição de nome familiar, Cordeiro Alves de apelido de geração. Todos os dias, enquanto eu for consciente, o meu pensamento estará contigo... Eu sei, nem é preciso demonstrá-lo, que A VIDA NÃO ACABA..."