segunda-feira, setembro 10, 2007

Sob o olhar da Senhora da Serra




Nas terras deste tão próximo mas longínquo nordeste,
Onde os rios deslizam apressados por entre ciclópicos penhascos,
Há o verde dos pinheiros altivos, dos salgueiros e dos carrascos,
O castanho de um chão em prolongado pousio,
O vermelho das papoilas por infindáveis mantos,
O amarelo das flores da giesta, de indizíveis encantos,
O azul de um incomparável céu diáfano e luzidio,
O cinzento esverdeado dos olivais e da urze agreste.
E neste nordeste de aquém ou de além dos montes,
Onde as gerações, velhas e novas, vão escasseando,
Há rosas de sonho,
Pombas de paz,
Cascatas a embalar as calçadas,
Amendoeiras odoríferas,
Apetecíveis frutos de cerejeiras,
Há barragens nas rochas encastradas,
Há o mel doirado das abelhas obreiras.
Mas, no mais alto pico das terras nordestinas,
Há também uma capela lendária e querida,
Atracção irresistível das gentes,
Em diáspora ou populações residentes,
Que acorrem, devotos e confiantes, à velha ermida,
Para lá oferecerem um lírio de preces angelinas.
E dentro dessa vetusta capela mora uma Senhora,
Com feições tão meigas, sinceras e bondosas,
Que fazem lembrar o rosto das mulheres da nossa terra,
Queimadas pelo sol e pelo seeiro nascido da aurora.
E aquela Senhora, ornada de ouro e vestes tão formosas,
É a vigia dos campos, das gentes, de quem vem e de quem passa,
Com ela se enche a indescritível paisagem de graça,
E, por ela, há saudades infindas, pois é a Senhora da Serra!

De FCA (2000). Pensar Poético à Solta.
Romaria anual: 08 de Setembro